quinta-feira, janeiro 26, 2006

Deixa Que...

Hoje na praia eu vi e escutei, em cores e alto e bom som, o que é a doença deste país. Sentado sob minha barraca, assistia uma senhora de uns cinquenta e muitos e sua filha de vinte e poucos juntando seus pertences para encerrarem seu dia sob o sol escaldante da Barra. Sobrou, como de praxe, um montinho de lixo contendo copos de mate, sacos de biscoito Globo, cocos e outros detritos. Eis que escuto o seguinte diálogo:

Filha: Pega esses copos aí que eu pego o resto!
Mãe: Ah, deixe que os caras fazem isso!

Com essas sete palavrinhas, esse senhora resumiu, com eloquência, a atitude que domina grande maioria do povo brasileiro. E graças a Deus, posso escrever aqui a palavra "maioria" porque a própria filha dela se encarregou de catar o lixo. Ainda assim, nada mais me espanta; nem a total falta de consciência, respeito e classe da senhora (não somente dela) e nem o tradicional descaso com o meio ambiente. Aliás, pobres praias do Rio que são obrigadas a suportar essa gente porca e folgada que é o carioca. Mas isso é outra história...

O tema aqui é o "deixa que". Sina mor dessa gente que assiste, impassível e incólume, a extinção de tudo que é digno e essencial ao bem-estar de uma sociedade. É um defeito que varre a população em geral, desde o mais pobre, que às vezes parece não se interessar em aprimorar a própria existência (leia-se aqui PREGUIÇA para se instruir e se educar), até o mais rico, que lamentavelmente adota uma postura de desinteresse devido ao seu poder aquisitivo (leia-se aqui PREGUIÇA para usar de seu arsenal financeiro no melhoramento das instituições que regem este país).

E assim...

Deixa que o outro faz.
Deixa que o outro paga.
Deixa que o outro sofre.
Deixa que o outro pega.
Deixa que o outro reclama.
Deixa que o outro fala.
Deixa que o outro vota.
Deixa que o outro chora.
Deixa que o outro deixa.......

Eis que, deixando para o próximo, deixando para depois, o Brasil é largado às traças, exposto aos ladrões e aproveitadores, todos da mesma laia, que se proliferam nas favelas, passando por todas as classes e culminando escandalosamente no governo.

Mas não os culpem não! Não me venham dizer que o problema deste país é a corrupção e a incompetência de nossos governantes! O problema deste país é que temos 180 milhões de OVELHAS que, lideradas por absolutamente ninguém, se permitem serem encaminhadas placidamente a um penhasco. Isto sim é a maior vergonha.

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