domingo, maio 07, 2006

Raízes Em Vermelho e Preto (Parte 2)


HIBERNAÇÃO -

A semente Rubro-Negra germinou e dava indícios de florescer quando foi decretada, em duas etapas, sua hibernação.

A primeira aos 7 anos, fui de mala e cuia com meu pai e minha mãe para São Paulo, aprendi a falar "meu", comer bolachas e cheguei até mesmo a flertar com a adoção de uma nova esquadra - digamos assim, uma dupla nacionalidade, já que "uma vez Flamengo...". Sob a influência de um primo e alguns bons amigos, tornei-me sucetível ao talento e às cores do São Paulo Futebol Clube (mais uma vez os belos e contagiantes vermelho e preto, mas com um branco invasor), equipe pela qual até hoje tenho respeito e um certo carinho. Inclusive existe até hoje, em algum obscuro álbum de fotografias, uma foto minha da época trajando a camisa do tricolor paulista. Mas a sorte interveio e minha possível "São Paulice" findou-se antes mesmo de começar.

Na verdade, esta tal sorte interveio não somente em termos do clube, mas do esporte por inteiro. O ano era 1986 e lá ia eu de mala e cuia novamente. Destino: A terra do Tio Sam, do beisebol, do Mickey. A hibernação se instalava em definitivo agora.

Mais uma vez me inseri na cultura, me deixei influenciar pelas paixões dos outros e acabei por tornar-me um mini-gringo fluente em inglês e torcedor ávido das equipes de beisebol, basquete, futebol americano e hóquei no gelo da cidade de Chicago, nos EUA (times que ainda acompanho e por quem continuo torcendo, mesmo daqui de terras tupiniquins). Entre 1986 e 1991 fiquei ilhado, sem contato com minhas raízes, sem a mínima noção do que se passava com "O Mais Querido". Não havia internet nem cobertura jornalística que me permitisse acompanhar o tetracampeonato brasileiro em 1987 e outras glórias do Mengão durante esses 5 anos.

Curiosamente, chego agora a uma feliz coincidência:

Se o vermelho e preto que amava no Brasil não mostrava as caras a mim, o outro vermelho e preto pelo qual me apaixonei me enchia de títulos e orgulho nos EUA. O Chicago Bulls de Michael Jordan, Scottie Pippen e outros jogadores fenomenais papava 6 campeonatos nacionais em 8 anos. E eu sou dos poucos que pode dizer de peito aberto que não fui um daqueles que pegou o bonde andando! Meu amor pelo Chicago Bulls começou ainda em 1987, quando o time amargava as últimas colocações da NBA. Sofri 4 anos nas mãos do arqui-rival Detroit Pistons até que a dinastia de Jordan tomasse as rédeas do esporte e eu pudesse berrar "É CAMPEÃO!" em duas parcelas de três! Já viu, né? Vermelho e preto é vitória e amor que transcede esportes e culturas (reconheço, isso é frase de Rubro-Negro roxo e chato!).

Eis que aos 16 anos, finalmente ressurgia o broto, finalmente renascia o autêntico Rubro-Negro, finalmente a pele era envolvida pela segunda pele que é o Manto Sagrado.

Nas minhas férias de verão de 1992, mais uma que passava aqui no Brasil com a família, tive meu primeiro gostinho de Maracanã. E que gostinho... O prato de entrada foi o Santos, com um 3 x 1 em que um dos gols do Flamengo foi marcado contra por um Santista chamado Bernardo. O prato principal foi o Botafogo, primeiro jogo da finalíssima do Campeonato Brasileiro de 1992, uma sapecada belíssima de 3 x 0, mais de 100.000 pessoas no estádio (que aperto!), uma atuação fabulosa do Mengão com direito a assistir ao Mestre Júnior deixando Renato Gaúcho sentado seguidamente com dois dribles humilhantes! E finalmente, a sobremesa, dessa vez longe do Maraca: ver meu Mengão se tornar o único pentacampeão brasileiro!

Ao voltar para os EUA depois das férias, voltei à mesma condição anterior: Como se fosse um balde de água fria (leia-se: re-inserção na cultura americana), mais uma vez eu sabia apenas o que meus primos Rubro-Negros me contavam. Inclusive um ataque que chegou de carruagem e saiu de carroça (Romário, Sávio e Edmundo) e uma tal de uma "barrigada" em 1995... Eu, como Flamenguista, não vi nada disso! Mais uma vez: Sorte minha!

A semente esperaria mais um pouco. A partir de 1998, ela cresceria forte, intensa e, finalmente, fixa em solo brasileiro.

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